Iniciaria essa sentença dizendo que o amor na contemporaneidade é complexo, mas depois de pensar dois segundos sobre isso, percebi que, na verdade, é o tecido social que está rompido, é o ser humano que está quebrado.
Ser pessoa na contemporaneidade é complexo. Talvez porque se vive cada vez menos em comunidade, mesmo que ainda existam espaços subversivos — exceção não faz regra. Fato é que me abateu o pensamento de que ser pessoa no contexto neoliberal é contra-hegemônico e, portanto, o amor é penoso.
Fiquei chateada, porque encarei com certa distância a ingenuidade da juventude, com os olhos meio cerrados e o triângulo da tristeza tomando de assalto a expressão da face. Como é que se ama “porque sim” depois do enrijecimento da alma? Não existe resiliência na alma; o que existe é a petrificação das variáveis do desejo, esconderijos secretos criados pelos neurotransmissores que mudam a química do nosso cérebro.
Amar era mais simples por puro saudosismo — porque, quanto mais se toma conhecimento do mundo, mais estarrecido se fica com a realidade — ou porque sim? Quanto mais eu sei, sei que nada sei, mas tudo o que eu sei me dilacera. Estou em busca de saídas, pular entre jaulas para encontrar uma onde o amor não invada a subjetividade, nem exija um pedaço da minha alma como um labor neoliberal.
Amar porque sim, sem o manto do medo e o desespero da deslealdade.
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