A realização da passagem do tempo foi brutal, esse ano fui o pão que o diabo amassa e o diabo amassando o pão. Revisitei muitas vezes o passado, consegui admitir o meu ressentimento e identificar as faces com as quais ele se apresenta. O campeão na corrida para a minha maior ferida é, sem dúvidas, como o masculino funciona no mundo, essa instituição escancarada da dominação. Acho tenebroso, fico ruminando a falta de sentido que é submeter o outro ao perverso - para mim, o perverso é retirar do outro o direito de ser pessoa. Caralho, sabe? Trinta anos e eu ainda não me sinto gente, inadmissível.
A ruminação é o maior sintoma do ressentimento; talvez me falte coragem 'pra viver fazendo as pazes, ou quase'. Essa última revolução solar foi uma coça, andei em carne viva o ano inteiro, meti o meu louco, sofri muito todos os últimos combates. Tive que reaprender a chorar as dores, senão eu seria por mais tempo aquela que está sempre por um fio e, honestamente, nem posso dizer que estou dominando as artes de se permitir entristecer.
Escrever nesse momento é tentar dar um ghosting nas minhas conversas comigo mesma, intermináveis, fritações pente fino e materializar os meus pensamentos pensando pensamentos. Coisa de gente maluca. Nunca estive tão da pá virada, cansada de racionalizar, querendo ser bicho, porque ser gente não tá com nada. E digo isso com total ciência de que entre os possíveis axiomas, a controvérsia do ser humano é um deles.
Descobri que apesar de persistente, não quero ser a eremita de porra nenhuma. Quero descansar a mente, ter mais momentos de felicidade, trabalhar menos, outras coisas, sabe? Se vale o desejo para o próximo ano, anseio por outros mundos possíveis - mesmo que alguns deles sejam só meus.
(Cumprindo o meu ritual comigo mesma de me escrever um texto de aniversário. Atrasado, mas valendo.)
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