Já me ocorreu, antes, de morrer por dentro de forma súbita. Vivi muitos processos de lutos internos, que se arrastaram por tempos infinitos, até ser capaz de ressuscitar. Há oito anos, eu chorei o ano inteiro; hoje eu queria querer chorar. Fui alertada por uma amiga querida (que já o fez antes sobre tantas questões) que tenho problemas com o processamento da dor. Sou teimosa, mas meus pensamentos pensam pensamentos obsessivamente, lógico que considerei o aviso.
Acho que tenho medo de voltar a chorar mundos inteiros, completamente apavorada com o falecimento de alguma camada da alma através da tristeza. Em 07 de junho de 2022, publiquei na minha newsletter sobre os traços traiçoeiros da minha personalidade; revisito sempre os meus escritos do passado, resquícios dos questionamentos que me trouxeram até aqui. No parágrafo que me trouxe até aqui, eu digo que "As minhas artérias carótidas trabalham fisiológico e subjetivamente sem descanso; tem quarenta mil corpos neuronais no meu coração, talking hearts me parece mais justo que talking heads.". Sinto que preciso me dar o conforto de sofrer com o corpo por um tempo, despedaçar-me pelos cantos.
Das muitas surras que venho tomando nesse retorno de Saturno, talvez o recado mais certeiro do universo seja que nem sempre aprender a apanhar é o suficiente, talvez seja preciso aprender a desocupar determinados lugares e sair do ringue, deixar ir embora, sofrer toda a sensação de frustração e desespero até elas se esgotarem. E começar de novo depois. E estar "atento e forte", mas autorizar que as mortes da alma sejam súbitas, não estar mais tão em alerta assim.
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