Pular para o conteúdo principal

Papel celofane

 A minha crise mais atual é a da controvérsia humana; sei que somos 'sim e não', 'isso e aquilo', 'faço ou não faço' ao mesmo tempo, mas esse niilismo me deixa engasgada, como se o sentido não existisse também dentro de sua ausência. 

Esse ano faço trinta e sinto que o mundo tem tentado me vencer pelo cansaço e, ah, quando cê fica cansado o pensamento crítico se assenta, o desejo pela transformação se acomoda, como se os sistemas dominantes fossem axiomas. 'Se for pra nós viver por isso, eu prefiro morrer pelo que eu acredito'. 

Tenho sonhado pra cachorro, sobre o meu lindo mundo da imaginação, como se fosse preciso só um estalo para que pudéssemos enojar aquilo que fede e anda ao nosso redor, para que considerássemos cenas cotidianas de um horror mais terrível que invocações do mal. 

O que não faz sentido pra mim é não bancar quem se é, sabe? Como se só porque o arquétipo reluz igual ouro, fosse ouro e não lixo em papel celofane. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eu odeio gente chique

Me encontro nesse momento com o coração partido. de luto, ferida por essa vida de mula, chateada demais com a burguesia safada. Depois que você começa a ler o mundo o oculto para de existir, determinadas nuances se escancaram e ninguém quer romper com os próprios privilégios - herdados de uma exploração multifacetada. Honestamente, que tristeza.  Nos últimos dois meses a vida me mastigou e me cuspiu de volta. Complicado ser uma mulher ousada no meio de porcos capitalistas, mas que se foda. Invisto toda a energia possível em não ser um saco de lixo, a despeito dos meus privilégios de pessoa branca com acesso a direitos básicos como a educação superior ou algum lazer. O que me atravessa o peito é ver essa gente espiando culpa burguesa através de qualquer face da exploração e se ofendendo quando alguém aponta e diz que é o que é.  Eu escrevo as minhas linhas - tortas ou não, certo ou errado -, e determinadas histórias eu tenho me decidido a parar de contar. É o fim de uma era, e...

Outros mundos

A realização da passagem do tempo foi brutal, esse ano fui o pão que o diabo amassa e o diabo amassando o pão. Revisitei muitas vezes o passado, consegui admitir o meu ressentimento e identificar as faces com as quais ele se apresenta. O campeão na corrida para a minha maior ferida é, sem dúvidas, como o masculino funciona no mundo, essa instituição escancarada da dominação. Acho tenebroso, fico ruminando a falta de sentido que é submeter o outro ao perverso - para mim, o perverso é retirar do outro o direito de ser pessoa. Caralho, sabe? Trinta anos e eu ainda não me sinto gente , inadmissível.  A ruminação é o maior sintoma do ressentimento; talvez me falte coragem 'pra viver fazendo as pazes, ou quase' . Essa última revolução solar foi uma coça, andei em carne viva o ano inteiro, meti o meu louco, sofri muito todos os últimos combates. Tive que reaprender a chorar as dores, senão eu seria por mais tempo aquela que está sempre por um fio e, honestamente, nem posso dizer que e...

Correspondência

Escrevo essa carta para você, que nunca me escreveu nenhuma. Fico mais recalcada que chateada, mas ligo menos do que acho que ligo. E nem digo que te amo, porque nem tenho certeza. E nem quero que seja meu, porque não sou de ninguém. Tomara que você consiga reivindicar o seu eu esquecido em outras juras de amor; e vendo por essa perspectiva, quem quer juras de amor? Jurar qualquer coisa custa caro demais, imagina jurar amor. Te amo porque sim ou não te amo, não dá pra ficar jurando por aí um dom imerecido. Não se jura de morte, nem de vida, nem de amor. E olha que jurei muito amor e me custou caro demais.  Tem essa música do The Smiths que me captura muito, de formas que se transformam ao longo do tempo. Vivi uma grande fossa com "I know it's over", fiquei na baixa das emoções, provei o gosto amargo de deus quando ele não deu asas a cobra, também quando arrancou o veneno. Hoje escuto como quem sabe que o fim das juras de amor também é o grande luto do romantismo cristão,...