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Lagarto ao Sol

 Você me diz que perdemos o jogo, está tudo condenado, não há escapatória.
Discordo, meu coração é seara da revolução, não se dá por vencido.
Você diz que isso é uma vida de grande sofrimento, de uma insistência gorada.
Para mim, a confusão que permeia esse intelecto ardiloso é não compreender que o mau do urubu é pensar que o boi tá morto. 

Não se deixe enganar pela mulher desdobrável, não se desatente com o aguardo silencioso, o que é teu tá guardado. "Todo o tempo é ouro, a hora é sagrada", não sou capaz de perdoar a exploração que captura a existência, aliena o pensamento, aprisiona a horizontalidade de perseverar. 

Quando o fim desses tempos chegarem e o tribunal final estiver posto, prometo que serei eu aquela que cortará a sua e a cabeça dos seus, de punhos firmes mantidos pela raiva dos banidos, dos loucos 'que caminham livres pelas terras verdes do conhecimento'. 

Escrevo inflamada pela raiva, combustível de uma alma que teme, mas faz o que tem que ser feito. Não se deixe enganar, não. 

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Mil e uma noites

Costumo me fazer repetitiva quanto a alguns ditados que permeiam a minha vida; pensando nisso, tenho sido insistente com o fato de que a tristeza é imensa, uma represa massiva com muralhas em volta. Fato é que as mesmas águas que fixam, também são aquelas que rompem. Me atentei que a existência é um ciclo constante de entrar e sair da caverna: deixamos de enxergar somente as sombras, mas o mundo é rude; nele construo um forte e em seu interior ergo, passo a passo, a minha terra prometida. Nos solos sagrados do meu lindo mundo da imaginação, as águas fixam a certeza de que dias mais leves virão, porém também causam rachaduras nos paredões, porque tenho pressa, a mudança urge impacientemente faz dois mil anos. É possível que eu tenha me deixado iludir, entretanto, através dessa fissura, enxerguei aquilo que se manteve oculto, silencioso, do lado de fora.  Me feriu tanto que a tristeza suprimiu a raiva e eu quis chorar por mil e uma noites. 

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Marte em Leão

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