É complicado dizer que estive em uma depressão. Meu momento mais deprimido tem a ver com um ressentimento tão antigo que sinto que me apeguei a ideia de que queria importar a alguém - hoje já não consigo afirmar com tanta precisão. De aniversário esse ano, me dei um lugar novo para morar e isso foi, sem dúvidas, a minha maior conquista de dois mil e vinte e três.
Ando tentando curar o ressentimento, porque deixei que ele me engolisse e retirasse de mim os meus alicerces comigo mesma. Tranquei a faculdade como quem tranca a si próprio nas profundezas do eu, passei dez meses inteiros prisioneira num quarto escuro e úmido, feito pulga - a praga que se manifesta nas minhas mágoas e se multiplica num piscar de olhos.
Há muito o que colocar no lugar. As vezes me sento a mesa de plástico na sala e imagino um mundo novo, porque a desesperança é reacionária e não sou conservadora, anseio pelos recomeços o tempo inteiro. Nesse sentido, já não posso mais passar um durex nos planos que rasguei quando nada me importava - além, claro, de sobreviver ao mau agouro; porém, sigo agora tecendo novos planos, porque me encontro em outro lugar e já não sou mais quem antes estava confinada num quartinho.
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