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Mil e uma noites

Costumo me fazer repetitiva quanto a alguns ditados que permeiam a minha vida; pensando nisso, tenho sido insistente com o fato de que a tristeza é imensa, uma represa massiva com muralhas em volta. Fato é que as mesmas águas que fixam, também são aquelas que rompem. Me atentei que a existência é um ciclo constante de entrar e sair da caverna: deixamos de enxergar somente as sombras, mas o mundo é rude; nele construo um forte e em seu interior ergo, passo a passo, a minha terra prometida. Nos solos sagrados do meu lindo mundo da imaginação, as águas fixam a certeza de que dias mais leves virão, porém também causam rachaduras nos paredões, porque tenho pressa, a mudança urge impacientemente faz dois mil anos. É possível que eu tenha me deixado iludir, entretanto, através dessa fissura, enxerguei aquilo que se manteve oculto, silencioso, do lado de fora. 

Me feriu tanto que a tristeza suprimiu a raiva e eu quis chorar por mil e uma noites. 

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