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Kintsugi

Eu quero fazer o meu rolê e o mundo é complexo . Sei lá. Nesse último semestre a vida tem sido uma loucura, uma vibe meio a esperança dança na corda bamba de sombrinha . Fato que fiquei rançosa com a vida e as pessoas e as relações permeadas até o talo pela imundície do neoliberalismo. Me feriu profundamente encerrar vínculos de longo prazo, lacrar as portas, sumir do mundo ou o mundo sumir de mim. Claro que o meu temperamento colérico de mulher agressiva anseia por uma confusão, uma grande troca de berros olho no olho, pau quebrando, guerra, paulada na nuca. Só que, ao mesmo tempo, eu estou economizando a minha saúde mental, sabe? De saco cheio pra caralho. Eu sou uma operária. A minha alma é apaixonada pela subjetivação que advém do trabalho: o fazer juntos, aprender e ensinar, compartilhar nuances do cotidiano, a sensação de jogar a toalha no fim do expediente e saber que foi a finesse do setor de serviço. Quando o labor é atravessado por outros eixos da existência e desvia um pouco...

Outros mundos

A realização da passagem do tempo foi brutal, esse ano fui o pão que o diabo amassa e o diabo amassando o pão. Revisitei muitas vezes o passado, consegui admitir o meu ressentimento e identificar as faces com as quais ele se apresenta. O campeão na corrida para a minha maior ferida é, sem dúvidas, como o masculino funciona no mundo, essa instituição escancarada da dominação. Acho tenebroso, fico ruminando a falta de sentido que é submeter o outro ao perverso - para mim, o perverso é retirar do outro o direito de ser pessoa. Caralho, sabe? Trinta anos e eu ainda não me sinto gente , inadmissível.  A ruminação é o maior sintoma do ressentimento; talvez me falte coragem 'pra viver fazendo as pazes, ou quase' . Essa última revolução solar foi uma coça, andei em carne viva o ano inteiro, meti o meu louco, sofri muito todos os últimos combates. Tive que reaprender a chorar as dores, senão eu seria por mais tempo aquela que está sempre por um fio e, honestamente, nem posso dizer que e...

Entranha

 Uma das minhas expressões mais populares é a de "apertar uma tora e fumar até babar". Aprecio muito o baseado no fim do dia, quando encerro todos os meus expedientes (trabalho, vida, maternidade, amor) e existo no meu momento que não cabe mais ninguém. Uma bola para cada uma de mim. Um cigarrinho também.  Estou na beirola dos trinta sem paranoia com o envelhecer somático. Em contrapartida, o que me assola se localiza nas vísceras. Desejo dominar a arte de desentranhar as coisas de dentro de mim.

Correspondência

Escrevo essa carta para você, que nunca me escreveu nenhuma. Fico mais recalcada que chateada, mas ligo menos do que acho que ligo. E nem digo que te amo, porque nem tenho certeza. E nem quero que seja meu, porque não sou de ninguém. Tomara que você consiga reivindicar o seu eu esquecido em outras juras de amor; e vendo por essa perspectiva, quem quer juras de amor? Jurar qualquer coisa custa caro demais, imagina jurar amor. Te amo porque sim ou não te amo, não dá pra ficar jurando por aí um dom imerecido. Não se jura de morte, nem de vida, nem de amor. E olha que jurei muito amor e me custou caro demais.  Tem essa música do The Smiths que me captura muito, de formas que se transformam ao longo do tempo. Vivi uma grande fossa com "I know it's over", fiquei na baixa das emoções, provei o gosto amargo de deus quando ele não deu asas a cobra, também quando arrancou o veneno. Hoje escuto como quem sabe que o fim das juras de amor também é o grande luto do romantismo cristão,...

Knowing no more

Tenho revisitado muito a infância e a adolescência. São muitas as raivas e mágoas e reviravoltas. Um amontoado de coisas antigas e novas. O último dos vinte está sendo regido por um retorno de saturno do qual eu fui alertada sobre, o juízo final de um emaranhado de mim, um soco na nuca.  Em 2024 eu desatei vários nós e o que me custou foi um pedaço do meu coração e a minha juventude, ultrapassei os limites de andar em carne viva. Por outro lado ainda bem, é terrivelmente desgastante viver upon the edge of no scape. 

Eu odeio gente chique

Me encontro nesse momento com o coração partido. de luto, ferida por essa vida de mula, chateada demais com a burguesia safada. Depois que você começa a ler o mundo o oculto para de existir, determinadas nuances se escancaram e ninguém quer romper com os próprios privilégios - herdados de uma exploração multifacetada. Honestamente, que tristeza.  Nos últimos dois meses a vida me mastigou e me cuspiu de volta. Complicado ser uma mulher ousada no meio de porcos capitalistas, mas que se foda. Invisto toda a energia possível em não ser um saco de lixo, a despeito dos meus privilégios de pessoa branca com acesso a direitos básicos como a educação superior ou algum lazer. O que me atravessa o peito é ver essa gente espiando culpa burguesa através de qualquer face da exploração e se ofendendo quando alguém aponta e diz que é o que é.  Eu escrevo as minhas linhas - tortas ou não, certo ou errado -, e determinadas histórias eu tenho me decidido a parar de contar. É o fim de uma era, e...

Recado

Já me ocorreu, antes, de morrer por dentro de forma súbita. Vivi muitos processos de lutos internos, que se arrastaram por tempos infinitos, até ser capaz de ressuscitar. Há oito anos, eu chorei o ano inteiro; hoje eu queria querer chorar. Fui alertada por uma amiga querida (que já o fez antes sobre tantas questões) que tenho problemas com o processamento da dor. Sou teimosa, mas meus pensamentos pensam pensamentos obsessivamente, lógico que considerei o aviso.  Acho que tenho medo de voltar a chorar mundos inteiros, completamente apavorada com o falecimento de alguma camada da alma através da tristeza. Em 07 de junho de 2022, publiquei na minha newsletter sobre os traços traiçoeiros da minha personalidade; revisito sempre os meus escritos do passado, resquícios dos questionamentos que me trouxeram até aqui. No parágrafo que me trouxe até aqui, eu digo que "As minhas artérias carótidas trabalham fisiológico e subjetivamente sem descanso; tem quarenta mil corpos neuronais no meu co...